sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

NAS PAREDES DO SENHOR


Não foi a primeira vez que o casal de idosos viajou em grupo. Passearam pelo Brasil, Europa e ainda por caminhos mais áridos como Egito, Israel, Jerusalém. Tomaram banho no rio Nilo, atravessaram o deserto, andaram nas corcovas de camelo... e quase chegaram em Missões. Mas a viagem acabou em rasteira e decepções.  O organizador? Religioso de confiança. 
As malas estavam fechadas, o que ficou para trás, organizado. Às oito horas da noite, da véspera, um telefonema “Olha! A viagem de vocês foi cancelada”. O casal ficou desorientado e não acreditou. A noite de sono que deveria ser tranquila e reparadora, virou pesadelo. A filha desconfiada foi atrás de respostas. No aeroporto, descobriu que não haviam reservas. Ligou para o hotel e a recepcionista não confirmou as estadias e nem o réveillon. O tour nunca existiu. Não havia pacote, somente engodo.
A verdade, o casal desconhece porque a filha poupou. Mas, já que foi cancelada a viagem, solicitaram a devolução dos pagamentos. Desculpas esfarrapadas foram arremessadas aos céus. Ela sim, a filha, sabe o destino do dinheiro. Na visão do ortodoxo e devotado religioso, está bem empregado, em nome do Senhor, nas paredes da igreja. 

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

MAS, NÃO É CARNAVAL?


Arquivo pessoal 
Final de tarde e o eixão lotado. O trio elétrico atravessado na avenida tocava som estridente. Jovens com copos de vidro e garrafas de bebidas eram barrados pelos policiais. Outros adicionavam, de tubinhos coloridos, cachaça e mel em seus copos de vodka, e meia dúzia de gatos pingados dançavam, pasmem, funk. Mas, não é carnaval? Será que a canoa já virou e não contaram? Allah-ô ô ô ô, mas que horror ô ô ô ô! A esta altura a estrela Dalva apagou, o Zezé perdeu a cabeleira e as águas rolaram. 
“Prefiro ficar em casa deitada no sofá, vendo televisão e comendo chocolate”. Esta foi a frase que escutei de uma adolescente sobre o carnaval brasiliense. Tentei ponderar dizendo que como não estava acompanhada por suas amigas, a alegria não era completa. Ela balançou a cabeça desanimada e não mudou de ideia. Saímos do eixão sul e seguimos por outras quadras a procura do “pacotão e galinho de Brasília”. Estávamos atrasados, os dois blocos já haviam fechado suas portas. Então, o jeito foi partir para a comilança e distrair o estômago com açaí e batata frita. 
Com cinco anos de idade, fui reconhecida como a criança mais foliona do coreto onde eu dançava marchinhas.  Em Sulacap, bairro onde eu morava, havia muita folia e jovens mascarados assustando os que passavam. Fantasiada de colombina, bahiana, pirata, primavera... frequentava as matines de um clube da vizinhança. Animada eu cantava... Ei você aí Aurora, diga que é mentira, seja sincera comigo. Diga que ô balancê vai regressar. Dá um dinheiro aí e abre alas que eu quero passar, aqui no eixão eu não quero ficar. 

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

TOPA DANÇAR?

Arquivo Pessoal
Topa dançar? Eu topo. Pode ser em casa, no salão, na praça ou na estação. Este é nosso lema e não há espaço para timidez. Onde estivermos, com ou sem música, com ou sem plateia. Dançamos.
As primeiras vezes foram, aqui mesmo, em Brasília. Tudo estava organizado. Havia mesa, cadeiras, banda e muita água para beber e não desidratar.
Estávamos em Coimbra, em uma estação aguardando o trem chegar. Estava distraída observando detalhes do lugar quando sem aviso fui convidada a dançar. Estranhei, porém aceitei sem pestanejar. Bailamos ao som de nossos corações, até o trem anunciar.
Outro projeto de viagem e uma surpresa. Perto do hotel onde estávamos hospedados havia uma grande praça, ainda decorada com símbolos natalinos. Ficamos sentados, exaustos dos passeios diários. Escutamos música, e como quem não quer nada, seguimos na direção. A banda iniciou suavemente, até que disparou um rock uruguaio e não resistimos à tentação.
Uma escala em Foz, dois dias em Lima, um passeio, aniversário da cidade, outra praça e uma banda a tocar. Desta vez não houve convite, olhares se cruzaram aquecidos com o calor solar e lá estávamos, novamente, a bailar. 

MARAVILHA DA NATUREZA


Arquivo Pessoal 
Iniciei viagem com destino ao Peru com conexão show de bola, Foz do Iguaçu. Do avião o comandante anunciou o que Marco e eu havíamos avistado de longe, “senhores passageiros, do lado esquerdo da aeronave, vocês podem admirar as cataratas do rio Iguaçu”. Estava radiante, vendo mais uma vez à sétima maravilha da natureza, no meio da mata atlântica.
Após rápido almoço seguimos para as cataratas, desta vez do lado brasileiro. Em 2005 estive nas cachoeiras argentinas. Segui longo, seguro e agradável caminho, por um píer, até a impressionante queda das águas de 83 metros de altura, na “garganta do diabo”. Visão endiabrada para meu tamanho.
Arquivo Pessoal - píer brasileiro
Na época, não estive nas cataratas brasileiras porque fui informada que não era formosa. Treta. "Nossas” saltos são fascinantes. Desci em elevador panorâmico admirando, de boca aberta, vasta queda d’água. Do mezanino os respingos molhavam meus cabelos grisalhos. No píer, iluminadas gotas d’água que sobrevoavam o céu, tocavam aventureiros, deixando-os encharcados da cabeça aos pés.
Maravilhas são sensações que mexem e remexem com nossas emoções. Estão cunhadas no coração. Foz do Iguaçu, Cristo Redentor, Torre de Belém, Machu Picchu..., minha saudosa Pedra de Guaratiba são espetáculos que já conheço. Existem outras e faço planos para visitar. Arquiteturas modernas, medievais e gigantes da natureza do nosso planeta.

TI TI TI



No aeroporto de Lima, Marco e eu descobrimos que não sentaríamos lado a lado durante a viagem até Cusco, que levam eternos 60 minutos. Na aeronave procuramos por nossos lugares, assim como outros tantos estrangeiros tranquilos e nervosos. O voo estava lotado e dentre as línguas faladas eu conhecia duas, o português e um complexo portunhol. 
Mal acomodo no assento, a senhora ao lado pergunta se falo inglês. Respondo que não, com um sorriso amarelo no rosto, porém com orgulho digo “espanhol”. Quando jovem tive inúmeras oportunidades para aprender inglês. Aliás aprendi, um pouco, mas a essa altura do campeonato, da idade e da memória, só lembro: what your name? How are you? How years old? Todos os goods; beautiful, nome de salão de beleza, ou seja, o básico do básico. Oh my god! Well, até que tentamos conversar, juro, mas não deu. Eu não entendia a ela e ela não entendia a mim.
Do outro lado, para minha alegria, uma argentina. Apertei o cinto, mas a conversa com a jovem correu frouxa. Conversamos de A a Z, até que ela comentou sobre sua atração pelas novelas brasileiras. Lamentava que por causa da viagem iria perder os capítulos da novela, que está sendo reprisada. Que a audiência em seu país é enorme porque as novelas brasileiras são reais, apresentam a vida como ela é, com intensidade. Completou “as nossas são sem graça”, e torceu a boca em sinal de menosprezo pelas do seu país. Assim também mencionou uma vendedora peruana que encontrei em uma livraria de Lima “quando fecho a loja corro para casa para não perder o capítulo” e acrescentou “não perco nunca”.
Gente, viajar é cultura e concluo: “pessoas de todas as nacionalidades adoram sofrimento, barraqueira e azaração!” Por somente falar espanhol perdi um TI TI TI danado de bom.

DÓLAR RASGADO


Fiquei indecisa sobre onde ir nas férias de final de ano. Vaguei pela Venezuela, Chile, subi até o México e desci para o Peru. Não pensei na Europa porque o momento era de frio, neve e muitos agasalhos. Esta visita fica para época mais quente, de roupas mais frescas e mala mais leve. 
Eu e Marco finalmente decidimos pelo Peru porque já estávamos enamorados de Cusco e Machu Picchu há cerca de 2 anos. Merida Guadalupe, nossa professora de espanhol, faz parte do motivo do enamoramento. Em vários momentos de sua aula explanava sobre a civilização Inca, a riqueza da catedral de Cusco, de sua terra natal Urubamba e de tantas outras belezas de sua terra. Com pesar, também mencionava sobre as dificuldades financeiras de seu povo.
Escolhemos nosso trajeto e algumas decisões importantes tivemos que tomar, como por exemplo o câmbio de nossa moeda. No Peru, aceitam o dólar, em algumas lojas o real, e o soles moeda local. Lá usávamos o dólar e de troco, geralmente, recebíamos soles. Eu fiz inicialmente a maior confusão. Queria dar soles em lugar do dólar porque eu não tinha nenhuma intimidade com ambas as moedas. Até que fui adquirindo mais confiança, no Marco é claro, e quando precisava pagar alguma conta consultava o respectivo.
A nota de dólar tinha que estar impecável. Se tivesse um corte em sua borda, quase imperceptível, os comerciantes não aceitavam. Não havia explicação ou sinal de lamento que os fizessem compreender que recebemos, de outros comerciantes, a nota naquele estado de conservação. Mas aprendemos a lição e passamos a ter maior cuidado com os dólares que recebíamos.
No último dia em Cusco, ainda havia uma nota de 20 dólares danificada na minha carteira. O que fazer? Como transferir o prejuízo para outro? E a consciência? A culpa? Então ao comprar um CD de um cantor da região, o Marco explicou: “senhor recebemos esse dinheiro, de troco, em seu país. Nós não somos responsáveis por este dano, portanto ele deve permanecer na sua terra”. O comerciante diante do nosso desalento aceitou a nota dizendo “tá bom, tá bom”.

VOLTE ADLER


Arquivo Pessoal - Mercado de Artesanato
Cheguei a Cusco ao final da tarde e saí a passear até o mercado de artesanato. Ao atravessar a rua encontrei com três mulheres agitadas que prendiam cartazes nos carros que paravam no semáforo. Parei e perguntei do que se tratava. A mulher disse “um menino foi sequestrado e não sabemos onde está”. Parei com um cartaz na mão, onde havia a foto da criança e imediatamente pedi que prendessem em minha mochila. Saí caminhando. Pensei que esta seria uma forma de divulgar.
Descobri que o menino era filho de uma comerciante local. Marco Linhares, que é jornalista, se inteirou dos acontecimentos e enviou mensagem para outros jornalistas no Brasil, para que divulgassem o fato. Eu estava impressionada, experimentando o que uma mãe sente quando perde um filho, o rumo, a esperança.
À noite fomos a Praça das Armas fazer um lanche. Do restaurante observei um grupo reunido na escadaria da catedral portando uma vela na mão. Curiosa, perguntei a garçonete o que estava acontecendo e ela respondeu “Não sei. Talvez alguém tenha se perdido e estão orando por ele.” Pais, mães, avós, amigos e primos saíram da escadaria e caminharam ao redor da praça gritando pausadamente “Volte Adler, volte Adler, volte Adler...” Fiquei comovida enquanto assistia o drama, pois conhecia a história e já estava envolvida em minhas emoções.
Por dois dias perdi o contato com as notícias, porque continuei viajando pelo país, mas sabia que iria voltar ao mesmo lugar. Quando retornei, perguntei sobre o menino e a resposta me estarreceu “ele está morto”. Eu exclamei: “Não pode ser!!! Como assim? Por quê?”
"Foi o tio. Pegou o menino no mercado, comprou uma mala, levou o menino para outra tenda e o asfixiou. Colocou o corpo na mala e o levou para a tenda da mãe. Todo tempo o corpo estava lá, a polícia averiguou."

ADRENALINA


Arquivo Pessoal
Estava na sala de espera em Foz do Iguaçu, aguardando o vôo em direção ao Peru. Precisei ir ao banheiro e lá encontrei duas mulheres conversando. Deduzi, são peruanas.
Entrei no box individual e prestei atenção na conversa e nada entendi. Ao fazer a higiene das mãos, percebi que falavam acelerado, hábito comum, e entre os dentes. Isto dificultava minha compreensão na língua espanhola. Iria ficar dois dias em Lima por conta própria, pois queria fazer contato, sem intermediários, com os peruanos. Imaginem!
Fui ao encontro do meu parceiro de viagem, o Marco e comentei sobre o que vi. Acrescentei que se estou interessada em ser compreendida em nossa viagem, que eu tirasse o cavalinho da chuva.
Fiquei em meu assento pensando sobre minha dificuldade no espanhol e isso começou a revolucionar meu intestino, fazendo com que eu tivesse que retornar ao banheiro. Adrenalina pura.
Assustada segui viagem. Chegando em Lima pegamos o translado para o hotel. A guia perguntou se queríamos que ela falasse em português ou espanhol. Insisti que deveria transpor a minha dificuldade e com segurança falei, “en español, por favor”.

A UNIÃO FAZ A FORÇA


Arquivo Pessoal - Meus pais
Eu e Marco estamos passando momentos delicados, com sensibilidade, amor e compreensão. A mãe dele tem 86 anos, meus pais 85 e 87. Marco é filho único, portanto o único que pode dar apoio e que resolve todos os contratempos advindos com a idade. Eu tenho um irmão, que atualmente vem com frequência a Brasília. Ele me ajuda a amparar nossos pais, principalmente nos momentos mais críticos. 
Nossos pais foram singulares em nossas vidas, porque escutaram, apoiaram e confortaram nas alegrias e tristezas. Quando pensávamos que estavam dificultando nossos interesses, na verdade estavam zelando por nosso bem-estar. Hoje sabemos disso, porque também somos pais.
Ao mesmo tempo em que felicitamos a longevidade, nos inquietamos com a qualidade de vida deles. Não queremos vê-los enfermos, debilitados e em degradação. Não queremos vê-los descendo a escada da vida, com dificuldade. Muito menos queremos perdê-los. Aqueles que nos criaram, amaram e deixaram suas marcas educacionais, agora precisam ser vigiados, confortados e cuidados. Um caminho inverso que até bem pouco tempo não conhecíamos. Tínhamos a ilusão de que nossos pais partiriam sem mudanças bruscas e atropelos. Sentimos apego e amor por aqueles que um dia, não muito remoto, claro, nos criaram com amor.

LOBO MAU


Sete de maio de 2014 foi uma data crucial para mudanças. Impacto, susto, medo e terror. Eu estava em casa quando recebi um telefonema inesperado, era minha mãe. Escutei sua voz tremula que dizia “sofremos um acidente”.
Fico assustada ao recordar o horror. “Mãe onde vocês estão? Cadê papai? - Ele está preso dentro do carro e os bombeiros estão tentando resgatá-lo. Oh não mããããe!” Estou indo para aí.
Enquanto saio de casa ao encontro dos meus pais, os bombeiros levam meus pais em direção ao hospital. Vejo de longe um carro branco atravessado na pista. Ao me aproximar deparo com o outro e um poste no chão. Meu pai foi o responsável. Apressada e muito assustada, pois não conhecia o estado físico do meu pai, mas sabia do estado emocional da minha mãe, eu quis descer do meu carro em movimento. Meu marido me conteve.
Nada para fazer, a não ser seguir em direção aos meus pais. Chegando lá vejo-os relativamente bem, o que me acalmou muitíssimo. Fiquei ao lado deles até o anoitecer, momento da alta. Mas até aí tudo bem... o lobo mau estava cochilando.
Os dias se passaram e o lobo... Minha mãe precisou de internação porque o estado de sua perna se agravou e cuidados especiais foram necessários pois ela é diabética. Lembrei-me de um comentário "prefiro ter um infarto, a ter que amputar uma perna.” Comemoramos meu aniversário no hospital.
Os dias se passaram e o lobo mau ainda espreitando e dando ordens. Meu pai começou a ter comportamentos bizarros. Sentou no prato quente, pousou seu braço em cima da comida, tinha dificuldade para levantar. Havia um coágulo enorme em sua cabeça. Ficou na UTI e lá todos diziam para que tivesse paciência “não me digam pra eu ter paciência. A conversa aqui é essa. Tô cansado. Quero ir pra minha casa. Os médicos estão fazendo uma pesquisa em minha cabeça.” Sinal de normalidade.
Meu pai
Os dias se passaram e o lobo mau... foi eliminado, mas deixou sequelas. Depois desses eventos traumáticos, hoje minha mãe é amedrontada quando sai de carro e meu pai já não dirige mais. O carro? Perda total.
Mas vocês pensam que a vida é só desgraça? Nananinanão. Meu pai fez outra cirurgia na cabeça, mas para colocar um implante coclear e escutar melhor os ruídos do lobo MAU.

PROMESSAS


Arrquivo Pessoal
Em 2014 fiz promessas. Voltar a desenhar, cuidar das orquídeas, estudar espanhol, viajar e amar. No momento não tenho lembranças de outros. Todas as decisões foram pensadas e não escolhi nada muito complexo de realizar. Refleti sobre minhas promessas e deduzi que de todas só uma não realizei, desenhar. 
A mesa de pintura continua armada em meu quarto, aposento reservado e silencioso, propício para a atividade. Deixei o grafite de lado porque para mim esta é uma tarefa que exige atenção, serenidade e aspiração. Em minhas reflexões sobre o não cumprimento da arte de desenhar, descobri que eu evitava o desenho porque não havia vontade de realização, portanto se não há vontade, não há arte. E assim ficamos...
Com as orquídeas fui mais longe. Construí um micro orquidário, que apesar de micro dá muito trabalho. As orquídeas exigem atenção, vigília e amor, caso contrário viram as costas e não dão flor. Estudei sobre suas manhas e manias e com elas aprendo a esperar e cultivar a esperança.
Meus planos de exercitar a mente, de “hablar” outra língua e “viajar” pelos países latino-americanos, permanecem. Gosto de fazer parte do cotidiano dos habitantes, conhecer a cultura, suas maneiras e doidices. Eu e Marco fazemos os passeios sem amarras, porém às vezes escolhemos uma turnê mais organizada para somarmos a nossa aprendizagem liberta.
Vida sem amor, não é vida. Amo objetos e pessoas. Amo meu carro que me leva ao trabalho e aos encontros. Amo minhas panelas porque com elas faço minha alimentação e alimento aos que amo. Amo meu jardim e o bem estar que ele me proporciona. Amo ser professora, porque com meus alunos aprendo sobre relacionamentos. Amo minhas “duradouras” amigas, as de perto Luzia, Maria Nilza e Elizabeth; e as de longe, Beth e Lizete. Amo também as não tão duradouras. Amo meus parentes, outros não me amam. Amo o Marco, entre tapas e beijos, porque respeitamos nossa individualidade. Amo minhas filhas e elas também me amam.
Em 2015... não fiz promessas. Deixarei a vida me levar.

MINHA AMADA PEDRA


Arquivo Pessoal
Semana passada fui ao Rio. Eu, meu irmão e pais. Encontrei parentes, amigos, praias e saudades. Dentre tudo, queria rever Pedra de Guaratiba. Convenhamos, não é praia com letra maiúscula, mas enseada lamacenta, que para uns tinha propriedades medicinais. 
Lá passei momentos, que gosto de recordar, da infância e parte da adolescência. Festas natalinas, final do ano, carnavais e férias. Tenho nostalgia deste lugar porque era pitoresco, caliente e sereno. Podia passear nas areias brancas, deslizar no lodo em prancha de madeira e pegar frutos marinhos. Cruzar nas pedras escorregadias e saltar entre elas. Pular era uma ameaça legítima, mas era criança e não tinha preocupação com detalhes.
Meu irmão tem melancolia da Pedra da “nossa infância”. Dirigimos ao encontro da antiga habitação de nossos avôs e foi difícil localizar. Assim como não encontramos a majestosa amendoeira de castanhas saborosas, canoas coloridas, redes dos pescadores, a praça e areia branca... ”aquela” casa dos avós e do Sr. Joaquim.
Voltei com outra imagem da Pedra. Mudou muitíssimo, lamentavelmente, para pior. As lembranças ficaram marcadas. Continuarei mirando o passado, porque no presente a amada Pedra esculpida nos corações, não existe mais.

LEMBRANÇAS ETERNAS


Arquivo Pessoal - Ana Elisa
Hoje ela nasceu, só que em idos dos anos 1983. Lembro dos momentos de apreensão e dá emoção quando vi minha filha Ana Elisa envolvida em uma manta que sua avó materna deu de presente. Chorei. Para minha surpresa, ela nasceu com os cabelos escuros.
Saudades daquele dia, mas as lembranças me remetem a momentos de maturidade e confiança. Passava por nova fase na minha vida, por mais uma das muitas que já vivenciei.
Ela era muito ágil quando engatinhava e quando ficou de pé, descobriu que empurrando seu carrinho de bebê podia ir mais longe e mais rápido, além de se esquivar dos obstáculos. Assim fazia todos os dias, para minha surpresa e do pai, até que se tornou independente e seguiu sozinha e sem apoio.
Filha querida, com você aprendi a ser mãe. Errei muitas vezes, mas acertei em outras e isso consola meu coração.
Hoje você é uma mulher casada, profissional competente que se especializa em sua área de trabalho, que cuida e inventa novas armações arquitetônicas em sua casa e fora dela.
Filha querida, te amo.
Filha querida, amo você e a amarei independente das suas escolhas e do destino que traçar. Mesmo que não concorde com as suas escolhas e com o destino que traçar, te amarei.
Sua mãe.

ELA VOLTOU


Ela voltou. 
Feliz, mais madura, mais segura, mais mulher. Voltou até noiva. 
Passou algumas dificuldades, porém "ficou e não amarelou", e também colheu bons frutos. Foi dependente e hoje mais independente. 
Eu nunca pedi a ela que voltasse quando me falava das pedras no caminho. Tivemos determinação.
Ainda vivendo longe, um dia bateu o pé e resolveu morar sozinha. Com menos proteção. Estava pronta para abraçar e enfrentar o mundo. Um filho para crescer precisa sair do abrigo e se habilitar a cuidar de si. Ficar na casca, sem se aventurar, debruçar e continuar olhando pela janela não faz crescer. Nisso eu acredito.
Filha, não preciso dizer que seja bem-vinda, porque você sempre foi bem-vinda. Fique, crie e irradie sua luz entre nós.
Agradeço aos familiares que a acolheram em terra desconhecida e tão distante para um coração de mãe. Agradecimentos especiais a você meu irmão e a cunhada Leninha que compreenderam suas dificuldades, que a aceitaram como ela é, e respeitaram suas emoções.



Em 03/12/2014