segunda-feira, 23 de maio de 2016

O ANO TERMINA

Laura passa por problemas financeiros. Perdeu o controle dos gastos e Geovane, seu marido, desconhece os reais motivos do nervosismo da esposa.
Angustiada procura a cartomante Lúcia. A mulher coloca as cartas e inicia a descrever sobre a vida da cliente, que sem perceber dá dicas a cartomante.
Laura comenta que está em débito bancário e que pensa separar do marido para que ele não descubra a dívida. A cartomante olha para as cartas e diz  “nada de separar do marido. Estou vendo nas cartas que ele vai morrer até o final do ano”.   Laura fica entusiasmada e sai da casa da cartomante cantarolando.
O ano termina e nada do Geovane morrer. Apesar da inquietação espera mais um ano, porque acredita que os fatos nem sempre acontecem no tempo determinado. Outro ano chega ao fim e Geovane exibe boa saúde.
Laura retorna a cartomante cobrando o insucesso do prometido. A cartomante coloca as cartas novamente e comenta “estou vendo que existe uma pessoa atrapalhando no desenlace do seu marido. É preciso fazer um trabalho de três em três meses para desmanchar o feitiço. Até o final do ano seu marido irá morrer”. Laura retoma a esperança e paga a Lúcia o valor dos despachos.
O ano termina. Desanimada com o malogro, Laura retoma a ideia inicial e pede separação. Um ano após o divórcio, Geovane é vítima de infarto fulminante.
Após o falecimento do ex-marido, Laura recebe a visita de um advogado que comunica “Geovane pagou as dívidas bancárias e deixou, em testamento, a casa em seu nome”. 

quinta-feira, 21 de abril de 2016

PARA ALÍVIO DE CLÁUDIA

Cláudia é mãe de dois meninos nascidos no Recife, capital conhecida como Veneza brasileira, de clima quente e sotaque arretado. 
Henrique e Pedro Paulo tem diferença de quatro anos de idade. Cláudia é preocupada com a educação dos filhos e desempenha, com esmero, a tarefa de ensinar sobre comportamento. 
O mais novo, Pedro, é irrequieto e necessita de mais atenção. Incansavelmente a mãe repete ensinamentos éticos, mas Pedro teima em repetir atitudes reprováveis. Parece provocação. 
Quando Pedro tosse ou espirra a esmerada mãe repete “coloque a mão na boca”. O filho pergunta por quê. A mãe explica “filho preste atenção. Ao espirrar, gotículas de saliva saem da boca. As gotas voam pelo ar e atingem as pessoas próximas, o que é anti-higiênico”.
Um dia vai ao médico. Coloca a camisa, short, meia e tênis. O perfume fazia questão. Enquanto aguarda a mãe aprontar, senta no chão e brinca. Cláudia adverte “saia do chão que irá sujar a roupa”. Pedro, de má vontade levanta. 
Saem do apartamento. Mãe e filho seguem para o elevador, onde haviam outros moradores. Pedro, que parece gostar de contrariar a mãe, indaga “mãe, quando a gente solta pum, também deve colocar a mão no bumbum?” Para alívio de Cláudia, o elevador chega ao destino. 

sexta-feira, 1 de abril de 2016

OMITEM O PRINCIPAL
Beto está noivo e toda vez que o casamento se aproxima força um desentendimento, desmarca as núpcias e desaparece por algumas semanas.  
Um dia estava trabalhando e foi à sala ao lado entregar um documento. Ao adentrar no recinto só enxerga a bela jovem. Gosta do que vê. Fixam olhares e sem nada dizer, Beto entrega o envelope à moça. 
As idas e vindas à sala da jovem passa a ser hábito frequente e surge amizade alegre entre eles. Após algumas semanas, ao final do expediente, convida a moça para irem ao bar. Mas, Beto continuava noivo, pois desconhecia os verdadeiros sentimentos por Maria. 
Em um dos encontros Maria fala da vida pessoal. Conta sobre interesses, vontades, viagens e outras besteiras. Omite o principal. Beto comenta sobre a vida e também salta o básico. Ambos têm segredos e sentem que não é momento para revelar.
O tempo passa até que decidem confidenciar suas realidades. Maria conta que é viúva e tem quatro filhos. Beto engasga e precisa levantar da mesa. Vai ao banheiro para disfarçar o constrangimento. Volta. Senta e ainda assustado, desconversa e despede de Maria, que fica só no bar.  
Afasta da jovem viúva temendo maior envolvimento, compromisso e responsabilidades. Descobre que está amando Maria. Marca novamente casamento. Agora é definitivo. Precisa formar laço mais forte com Verônica, a noiva. 
Passados dois meses, morre a avó de Beto e lá está Maria no velório. Ela foi designada para representar a empresa onde trabalham. Beto, de braços com a noiva, vai em direção à colega de escritório para agradecer a presença. Segura sua mão.Verônica observa os dois. Beto e Maria mal conseguem disfarçar. Discretamente, a noiva afasta de Beto sem deixar vestígios, para nunca mais voltar. 

domingo, 24 de janeiro de 2016

SÔNIA SENTE MEDO

A casa de dona Carmem parece uma hospedaria de idosos. Vivem nos aposentos, o casal com mais de 85 anos, uma irmã com 83 que tem uma leve deficiência neurológica e José, o irmão mais novo de Carmem, com 78 anos,  apresenta graves problemas de saúde. Além dos moradores trabalham na casa duas cuidadoras, uma cozinheira, faxineira, passadeira e o faz tudo, um empregado de longa data que quebra todos os galhos, verdes ou maduros. Os filhos de Carmem estão sempre em alerta porque vez por outra são convocados para resolver pepinos e abacaxis dos moradores. 
A manhã está tranquila. Sônia, a filha, está pronta para a entrevista com o advogado, até que sua mãe telefona e comunica “venha correndo que seu tio está morrendo”. Imediatamente pega o carro e vai a socorro do tio. 
A UTI móvel já havia chegado e faz os primeiros procedimentos de urgência. Quando Sônia entra na casa escuta “ela chegou e sabe tudo”. Imediatamente é bombardeada pela médica, com perguntas sobre a saúde de José, remédios usados, alergias e o convênio de saúde. 
Sônia precisa estar lúcida para atender as demandas da equipe de saúde e da família. Enquanto responde, observa o tio inerte. Precisa silenciar a mãe que está angustiada, afastar o pai que atravanca a porta do quarto e tranquilizar a tia que queria ver o irmão. 
Enquanto os procedimentos são realizados pela enfermagem, a médica faz contato com a central da empresa para identificar um hospital conveniado e com vaga na UTI. A eminência de morte é fato. Todos estão atordoados, como baratas tontas, e o paciente só responde ao estímulo de dor. 
José é colocado na ambulância. Sônia entra no veículo, senta no banco da frente e amarra o cinto de segurança enquanto escuta a médica ordenar ao motorista “siga para o hospital e ligue a sirene da ambulância”. O veículo parte em alta velocidade, avança entre o tráfico intenso, fura os semáforos vermelhos, trafega pelos acostamentos e aciona outra sirene. Sônia sente medo.