segunda-feira, 25 de maio de 2015

SAUDADE E PESAR

Arquivo Pessoal
Havia tomado café da manhã e permanecia tranquila à mesa lendo, no celular, as mensagens do dia. O telefone toca. Era minha mãe: “tenho uma notícia muito ruim para dar”. Enquanto interrompe o aviso para conter a emoção, meus pensamentos vagueiam.  Segundos depois, anuncia: “a Cristina morreu”.  
Semana passada papai e meu irmão estiveram no Rio para o sepultamento de outra parenta. Aproveitaram para almoçar com tia Cris e tio Hamilton. A dupla sempre foi presença marcante na família. Felizes compartilhavam novidades sobre acontecimentos diários. Apesar de frágil saúde, tia Cris cuidava de si e do marido que apresenta distúrbios fisiológicos graves. 
E eu que cheguei de recente excursão, engato em nova viagem que preferia ter outros motivos para visitar. Atualmente para passeios com meus pais, eu e meu irmão, precisamos acompanhar. Eles têm dificuldade de locomoção e a assistência é inevitável. Passagens compradas e malas arrumadas, seguimos para o aeroporto com destino ao Santos Dumont. O avião sobrevoa a Restinga da Marambaia, Sepetiba e Pedra de Guaratiba. Segue pelo Recreio e Barra da Tijuca. A linda visão do espaço carioca dispersa os pensamentos fúnebres e me perco rememorando brincadeiras de infância.
Do aeroporto seguimos para a casa dos tios.  A emoção nos silencia. Encontrei abatimento nos olhares do meu tio, filhos, noras, genro e netos. Deparei também com lembranças e saudades dos primos(a) que há anos não revia. Depois de adultos tomamos rumos diferentes e a distância impossibilitou encontros mais frequentes. Observávamos para reconhecimento das fisionomias, enquanto abraços saudosos e de pesar eram trocados. Após a euforia do encontro, conversamos sobre a convivência em Brasília quando adolescentes. Relembramos a escola, a quadra em que moramos, a poeira vermelha que sobrevoava o céu e o aeroporto, local ímpar, onde os primos, meu irmão e eu trabalhamos.   
Em determinado momento, fui convidada a dividir uma história familiar. Entrando no quarto percebi o neto André, de 21 anos, pegando a caixa de memórias da tia Cris com fotos e cartas. Revi a minha festa de debutante que compartilhei com a prima Cristininha que fazia oito anos; e o aniversário de 90 anos da vó Maria. As cartas dos filhos quando crianças, com mensagens de amor, foram mantidas. Os olhares dos irmãos e o meu cruzaram. Surpresos, com os arquivos conservados, leem em silêncio as comovidas palavras infantis à mãe amorosa.
Com carinho,